A calamidade pública causada pela Covid-19 na Índia levou o governador do estado de Karnataka, B.S. Yediyurappa, pedir que famílias queimem os mortos pela doença em suas próprias casas. “É prudente dispor rápida e respeitosamente dos corpos de forma descentralizada, para evitar aglomerações nos crematórios e cemitérios”, clamou o gestor.
A prática de cremação é comum no país, de maioria de religião hinduísta. Segundo a coluna de Vilma Gryzinski, na Veja, mais de 900 milhões dos 1,3 bilhão de indianos seguem o credo. A ideia é de que os mortos têm suas almas liberadas após a cremação, e isso impulsiona mais uma volta na roda da encarnação. Os muçulmanos – 200 milhões – costumam sepultar os corpos na rua.
A Índia registrou, nas últimas 24 horas, 352 mil novos casos de Covid-19 e 2.812 mortes. No total, já são quase 200 mil óbitos. Com UTIs superlotadas, falta de respiradores e outros equipamentos, doentes perdem as vidas mais rápido, e piras funerárias ao ar livre são cada vez mais frequentes.
Um empresário de construção civil de Bangalore revelou ao jornal The Straits Times teve de improvisar uma cova no quintal de casa para enterrar o próprio pai. “Como hinduístas, deveríamos cremá-lo, mas todos os sete crematórios da cidade disseram que havia uma espera de 48 horas”, lamentou.
A posição do primeiro-ministro, Narendra Modi, é de desespero. Disse que o país está abalado pela “tempestade”. Já a Suprema Corte de Delhi avisou que se houver um culpado por comprometer a distribuição de oxigênio, “nós vamos enforcar esse homem”.
Atualmente, o país recebe dos Estados Unidos (EUA) e da Inglaterra concentradores de oxigênio. A situação por lá acende o alerta para outros países, como Paquistão e Nigéria. Ambos são muito populosos, e sequer começaram a vacinação ou estão em estágios muito iniciais.