Afirma o vereador Alisson Mendonça, que está em seu quinto mandato, já presidiu a Câmara de Ilhéus e foi secretário na gestão anterior, de Newton Lima, que, por sinal, assume como um fracasso.
Alisson, por que Ilhéus chegou a este estado caótico?
Depois de sete meses, a cidade continua com as escolas fechadas, os postos de saúde sem funcionar, os servidores em greve, nada funciona. Acho que falta humildade para o prefeito Jabes Ribeiro, que não tem dialogado com a sociedade, o funcionalismo ou a Câmara.
Mas boa parte do desastre atual foi herdada da gestão anterior, não?
Sem dúvida, não disputo isso. Nós fizemos parte do governo de Newton e assumimos esta culpa. Temos nossa responsabilidade. Infelizmente, fomos para o governo num momento em que era necessário tentar reverter o quadro de Ilhéus, este foi o espírito, mas considero que caímos numa armadilha. E pagamos caro por isso, tanto que perdemos a eleição.
Como resolver a situação atual de Ilhéus?
Primeiro o prefeito Jabes Ribeiro precisa deixar o orgulho de lado e entender que o mundo mudou. Estou acompanhando os sindicatos, fui a salvador e, por intermédio do deputado Rosemberg Pinto, conseguimos marcar audiência com o prefeito na assembleia, junto com as lideranças do PT e do PP. Também já foram entregues propostas e os sindicatos abriram mão de qualquer aumento.
Todos estes protestos não prejudicam a cidade?
Ilhéus quer voltar ao seu cotidiano. Os comerciantes estão perdendo dinheiro e isso corta o coração da gente. Queremos a normalidade de ilhéus e isso está nas mãos do prefeito. É preciso ter mais paciência com a garotada do Reúne Ilhéus. No transporte coletivo não existe gratuidade. Alguém paga por aquele que deixa de pagar. Acho justo algumas categorias terem direito, mas a fonte de recursos tem que ser as empresas. O TJ pode pagar a passagem de seus oficiais de Justiça, a PM pode pagar a de seus policiais.
Mas para isso é preciso montar uma CEI?
É na criação da CEI (Comissão Parlamentar de Inquérito) que você cria um ambiente. A comissão de inquérito chama a sociedade para discutir. Um cidadão que mora no interior não pode ser penalizado com o aumento da passagem, porque onde ele mora não tem esgoto, não tem coleta de lixo, não tem água encanada.
Ilhéus tem uma passagem mais cara que Itabuna e o aumento foi no seu governo, não?
Meu não, de Newton Lima, mas carrego minha cruz, pois o aumento foi aprovado quando estava na prefeitura. Existe um fator que é a taxa por quilômetros e passageiro. Itabuna é uma cidade mais concentrada. Ilhéus é diferente, tem 44 localidades no interior e nos 10 distritos.
O prefeito tem verba suficiente para deixar a cidade funcionando?
As verbas próprias realmente tem caído, mas as carimbadas, de saúde e educação, tem crescido neste ano, por isso não justifica ter estes dois setores paralisados. Uma coisa que precisa ser dita é que esta herança não começou em Newton e nem em Valderico.
Começou com o próprio Jabes, lá atrás. Veja a questão do FGTS. Existe um funcionário na prefeitura com 27 anos de serviços e, destes, Jabes Ribeiro governou 14 anos. O funcionário tem apenas R$ 4 mil depositados porque ninguém recolhia o FGTS. Jabes está herdando efeitos das administrações dele.
Mas como se resolve o impasse se não há dinheiro próprio?
É preciso montar um escritório de projetos. O prefeito não tem um plano de governo, não montou uma equipe. No pouco tempo que passei no Planejamento deixei um plano, uma equipe boa e preparada. Por que o PAC emperra? Por falta de projetos. A salvação de Ilhéus é não ter no meio um “grande iluminado” para fazer a administração usando a cabeça dele.
Voce é a favor da cassação do prefeito?
O prefeito só é cassado se der motivo e quando você não administra, porque tem um movimento na porta, cinco mil funcionários, ele demite servidores concursados. Existem vários processos individuais que o judiciário mandou reintegrar. Quem vai dizer se vai ser cassado é ele. Acho que cassar apenas por cassar não vai resolver o problema. O prefeito ganhou a eleição com poucos votos, mas ganhou.
Independente dele, qual é a saída para gerar renda em Ilhéus?
A saída é potencializar nossas vocações, o turismo, formatar nossos produtos, pois não adianta ter a Lagoa Encantada, por exemplo, e o turista não poder subir ou descer a ladeira com o carro. Não tem nenhuma infraestrutura, não existem nem sanitários.
Fora o turismo, que outro caminho você vê para ilhéus?
Entrar na logística nacional de transporte e virar porta de entrada e saída. Ilhéus fica no centro, produzimos soja, algodão, granito, carne, e importamos fertilizante.
Com o aeroporto internacional e os empresários vendo essa logística, eles vem para o município. No próximo ano teremos representatividade e vamos cobrar do governador o espaço dessa região, que é pequeno no governo. Se não temos deputados, somos mudos.
Esta representatividade pode melhor com o voto distrital?
O certo é o voto distrital. Se, por exemplo, eu atuo no eixo Ilhéus/Itabuna e quiser ser deputado, minha votação terá um distrito eleitoral estabelecido. Hoje o politico tem 417 municípios e uma sacola cheia de dinheiro, ele vai perder uma eleição nesse país com o sistema eleitoral que está aí? Só se for bobo.
Como você vê as forças para as eleições do próximo ano?
Vejo muita força no governador Jaques Wagner. A capacidade dele é grande e ele tem muita coisa para mostrar. É um projeto de aliados, não só do PT, mas das bases. Temos ainda que passar por um processo de unificação no partido, pois aí o “magrinho” fica forte.
Vai ser complicado pedir voto no próximo ano?
É preciso mudar as regras da politica e não acabar com os políticos. E para se eleger, acho que vai ter que ter muita sinceridade, o candidato vai encontrar um eleitor mais exigente.
As promessas de campanhas não deveriam ser impositivas?
É preciso ter mecanismos de punir e acho que a democracia representativa não dá mais a resposta que a gente espera e que o eleitor quer. Falta mais transparência e atrair o cidadão.
Transparência como?
Mudar a rotina da Câmara, das comissões. Quando fui presidente da Câmara em 2007 criei a Câmara online, a ouvidoria, e a sessão itinerante. Hoje não existe mais. Precisamos que a comunidade participe das sessões, porque é lá que as coisas acontecem. As pessoas podem não gostar da politica, mas a saúde, a educação, a rua, só vão melhorar com a política.
Vê alguma liderança nova na câmara de ilhéus?
Acho que o menino Lucas Paiva, como herdeiro politico do pai, tem muito a aprender, mas carrega com ele valores e carisma. Eu coloco minha esperança nele.
Como você vê a relação de Itabuna e Ilhéus?
O ilheense deve se apoderar das coisa de Itabuna e o itabunense se sentir dono das coisas de Ilhéus. E essa estrada é o nosso desenvolvimento conjunto. Digo que é nosso umbigo e com a duplicação da estrada teremos dois umbigos. Nossos netos farão cooper nessa avenida. Eu sonho com isso.
(A Região)