
O auditor do Tribunal de Contas da União (TCU), Alexandre Figueiredo Costa Marques, afirmou que o documento apresentado por Jair Bolsonaro com informações falsas sobre a quantidade de mortos por Covid-19 foi adulterado após chegar as mãos do chefe do Palácio do Planalto. No último dia 28, ele depôs à comissão para que a sua conduta seja apurada. Bolsonaro disse publicamente no início de junho que o TCU teria um relatório que colocava em dúvida a quantidade de mortos pela doença em 2020, o que foi desmentido pelo órgão no mesmo dia.
Desde o início da pandemia, pelo menos 570 mil brasileiros morreram vítimas do novo coronavírus. Após ser desmentido, Bolsonaro recuou, mas em outras oportunidades voltou a levantar suspeitas sobre uma supernotificação. O auditor Marques elaborou o documento e admitiu ter compartilhado com o seu pai, o coronel da reserva do Exército, Ricardo Silva Marques, que estudou com Bolsonaro na Academia das Agulhas Negras (Aman).
Ele afirma que foi o pai quem encaminhou no dia 6 de junho, ao presidente, o documento, que se tratava de duas páginas escritas sem data ou assinatura timbrada do TCU. “O que preparei não tinha qualquer menção ao TCU, não tinha cabeçalho, identidade visual, data, assinatura, não tinha destaques grifados com marca-texto, não tinha nada disso. Meu pai acabou repassando e ele poderia ser editado por qualquer pessoa”, afirmou o auditor.
Marques alega que sabe qual foi a versão final enviada ao pai, que também garante ter somente repassado o arquivo para o presidente. Qualquer mudança teria acontecido depois disso. “Redigi esse arquivo em Word, em duas páginas, como um rascunho para provocar um debate junto à equipe de auditoria. Peguei informações públicas na internet, fiz simplesmente um arrazoado, para gerar essa discussão. Minha preocupação era com a qualidade dos dados de saúde”, afirmou o auditor.
O coronel Ricardo Silva Marques não esclareceu o motivo pelo qual enviou o relatório ao presidente. Segundo informações da Folha de S. Paulo, Alexandre Marques detalhou como Bolsonaro atuava para garantir cargos a amigos em seu governo. Ele próprio teve um currículo enviado por Bolsonaro ao presidente do BNDES, mas o caso não avançou.”
“Foi total irresponsabilidade do mandatário da nação, sair falando que o tribunal tinha um relatório publicado, falando que mais da metade das mortes por Covid não era por Covid. Achei uma afronta a tudo que a gente sabe que acontece, às informações públicas, à ciência”, disse.