Ubaitaba Urgente

Ubaitaba: A Revista Veja desta semana conta um pouco da trajetória do idolo da canoagem, “Isaquias Queiroz”

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FORÇA DA NATUREZA – Na infância, Isaquias era conhecido como “sem rim” I Aron Lynett/The Canadian/AP.

E quem disse que você nunca torceria pela canoagem? O baiano Isaquias Queiroz, vencedor de duas provas de canoagem em velocidade no Pan-Americano, é a grande novidade para a Olimpíada

O Comitê Olímpico Brasileiro (COB) tem uma meta ambiciosa para a Olimpíada do Rio, em 2016. O plano é conseguir dez medalhas a mais que nos Jogos de 2012, saltando de dezessete pódios para 27. Como alcançar esse objetivo? Será preciso levar ouro, prata ou bronze em pelo menos três modalidades novas, que nunca viram as cores da glória. Uma das apostas é a canoagem. Ou, para ir direto ao ponto, um atleta, o baiano Isaquias Queiroz, de 21 anos, forte como um touro, com 85 quilos de músculos e adrenalina distribuídos em 1,75 metro de altura. Isaquias saiu de Toronto com duas medalhas de ouro e uma de prata no Pan-Americano. Na prova de velocidade de 1 000 metros – a chamada C1-1000 -, ele deixou para trás o canadense Mark Oldershaw, medalhista de bronze em Londres, um atleta muito popular, não por acaso escolhido para ser o porta-bandeira dos anfitriões na cerimônia de abertura do Pan. Foi, digamos, quase um 7 a 1 a favor do Brasil, um gol de Ghiggia. Nos 200 metros – a C1-200 -, Isaquias venceu com um tempo que o faria campeão na Olimpíada de 2012. A prata ele dividiu com Erlon Silva, na C2-1000 (é bom já nos acostumarmos com a nomenclatura da modalidade, talvez seja real­mente necessário para o ano que vem). Três medalhas no pescoço fizeram de Isaquias uma celebridade instantânea às margens do antigo Canal Welland, a 135 quilômetros de Toronto, usado comercialmente entre 1932 e 1977, a principal rota de transporte da região dos Grandes Lagos, hoje transformado em raia esportiva. Uma tradição do Pan de 2015, celebrada por uma profusão de selfies feitas pelos atletas, era uma visita ao lado canadense das Cataratas de Niágara, perto dali. Isaquias disse não. “Queria mesmo era estar em casa no dia 27”, disse a VEJA, sorriso amplo a emoldurar a euforia. “Vai ser o maior festão.” Festão, no caso, é o que vai acontecer agora no fim do mês em Ubai­ta­ba, no sul da Bahia, pela celebração de 82 anos de emancipação do município. Ubaitaba, a terra natal de Isaquias, tem no próprio nome a explicação da origem de vencedores como o bicampeão pan-americano. O nome em tupi-­guarani significa “cidade das canoas”.Cabe, portanto, uma breve interrupção para entender por que o rio canadense que leva Isaquias ao Rio em 2016 passa pelas corredeiras baianas do lugar onde pela primeira vez ele enfiou um remo na água. Ubaitaba é banhada pelo Rio de Contas. São 620 quilômetros da nascente, na Chapada Diamantina, até a foz, no Oceano Atlântico, em Itacaré. Não surpreende que, daquelas águas, tenham saído outros medalhistas no Pan: Erlon, aquele que dividiu um segundo lugar com Isaquias, e Valdenice Conceição, bronze na prova feminina da C1 200 metros, filha da foz de Itacaré. Canoas, por ali, sempre foram o mais útil e popular meio de transporte, tanto de pessoas quanto de mercadorias, desde que os índios tupiniquins descobriram que não havia modo mais rápido de deslocamento.

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“CIDADE DAS CANOAS” – O rio de Contas é personagem incontornável de Ubaitaba (BA), terra natal de Isaquias(Acervo Ubaitaba.com/VEJA)

Se queriam velocidade, mostram ilustrações de séculos passados feitas por europeus ao descobrir o Novo Continente, e com apenas um remo, o jeito era se postar de joelhos, a perna direita no fundo, a esquerda à frente, de modo a obter o máximo de propulsão. É intuitivo – intuição que, naturalmente, tiveram todos os agrupamentos indígenas que cresceram em áreas fluviais, como no Canadá e nos Estados Unidos, onde brotou a modalidade que agora faz um brasileiro – de sangue indígena nas veias, nem é preciso ressaltar – derrotar os grandes do esporte. As canoas sempre foram uma necessidade para Ubaitaba, vetor da economia local. Mas somente a partir da década de 80 passaram a representar também uma chance de conquistas esportivas, com a fundação da Associação Cacaueira de Canoagem. Jefferson Lacerda, integrante da primeira equipe brasileira de canoagem a disputar uma Olimpíada, em 1992, é figura central dessa história. Foi ele quem assinou o consórcio para comprar os dez primeiros barcos olímpicos da cidade. “As crianças de Ubaitaba agora querem ser o Isaquias quando crescerem”, diz Lacerda. “Muitas delas serão maiores que ele, no futuro; tomara.” Com reportagem de Renata Lucchesi.