Apesar de paradoxal para um país cuja “abundância de água é um orgulho nacional”, a crise da falta de água em São Paulo pode estar apenas no começo. É o que sugere reportagem do jornal americano The New York Times publicada nesta semana. A publicação compara a situação vivida pelos paulistanos com o cenário de cidades da Índia e do Paquistão, onde a população precisa literalmente “caçar” por água ou comprar o recurso no mercado negro. Por conta disso, São Paulo ainda não estaria vivendo o pior da crise, segundo análise de Steven Solomon, autor do livro “Water: The Epic Struggle for Wealth”.
Para o jornal americano, as obras anunciadas pelo governo para aliviar o problema são ambiciosas e deveriam ser a última solução. O correto, segundo a publicação, seria ter adotado, há meses, medidas mais agressivas para reduzir o consumo e os vazamentos. Em vez disso, o governo decidiu diminuir a pressão do abastecimento “semeando confusão e raiva entre os que não estão aptos a conseguir água”, afirma a reportagem. Segundo o New York Times, as razões para a crise vão desde o crescimento populacional desordenado na região, os vazamentos no sistema que fazem com que 30% da água seja perdida antes de chegar até as casas, a poluição dos rios Tietê e Pinheiros (cujo “aroma pode induzir a náusea nos pedestres”) e a destruição das florestas. Além é claro de um problema de gestão.
“Esse é um sistema de água que, claramente, não foi bem gerenciado”, afirmou ao jornal o diretor de políticas urbanas de água do Stanford Woods Institute for the Environment, Newsha Ajami. As chuvas acima da média dos últimos dias fizeram com que o Sistema Cantareira recuperasse o mesmo percentual do final de novembro passado. No entanto, ao que tudo indica, a crise ainda está longe do seu fim. Nesta tarde, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, afirmou que o aumento recente do nível de todas as represas são notícias positivas, mas que não é possível dizer ainda se o rodízio do fornecimento será evitado.