Não foram dez dias. Foram quase dez anos. Leonardo da Silva Moura e Flamengo. Paixão daquelas raras de se ver. Nasceu, óbvio, num Dia dos Namorados: 12 de junho de 2005. Léo vestia pela primeira vez a camisa do time de infância, diante do Corinthians. Número 2 às costas. Era um garoto de 26 anos. Não tinha nem moicano. Diferente do homem de 36 anos que pisou em campo no Maracanã pela última vez com a camisa do Flamengo nesta quarta-feira debaixo de um bandeirão em forma de…coração. E do outro lado estava o Nacional-URU.
Nas costas, o mesmo número 2 de quase dez anos antes. Na cabeça, o moicano, já com fios grisalhos, uma marca registrada. Na arquibancada, o carinho acumulado de uma nação. 27 mil pagantes. Aplausos, gritos, choros, faixas. E placa. Minutos antes de começar a festa de despedida, Léo recebeu do maior ídolo dele e do clube, Zico, uma placa em homenagem aos 519 jogos com a camisa do Flamengo. Sétimo maior da história. 47 gols. E 51 assistências. Ou melhor, 52.
Na direita do Flamengo, pela última vez, passava o Moicano. Para lá e para cá. Dono da festa, bastava tocar na bola para arrancar gritos da arquibancada. E despedida de lateral tem de ter…passe. Talvez emocione mais servir do que ser o autor do gol. Lá pelas tantas passou de novo o camisa 2 pela direita. Pediu a bola. Todos esperavam aquele cruzamento pelo alto. Veio por baixo para o amigo Eduardo da Silva, companheiro dos tempos de infância na Vila Kennedy, no Rio.
O brasileiro naturalizado croata ajeitou e bateu de canhota, no cantinho direito do goleiro. Belo gol. Câmeras em Eduardo? Quase nenhuma. Na beira do gramado, Léo Moura vibrava com os braços elétricos para cima, faixa de capitão no braço esquerdo. A festa era dele. A alegria era toda dele. Agora, sim, estatísticas atualizadas. 519 jogos, 47 gols e 52 assistências. E oito títulos. Sete deles levantados ali o Maracanã, palco do adeus.
Mais solto, longe da pressão, Léo até treinou para sua estreia no meio de campo do Fort Lauderdale Strikers, dos Estados Unidos. Deu passes, piques, correu, brincou. E ouviu sempre o grito da arquibancada. Faltava pouco. Muito pouco. Apenas minutos. Era a última descida para um intervalo no Maracanã.
No segundo tempo, o momento era de passagem de bastão, oficialmente. Flamengo recheado de garotos como Douglas Baggio, Jorge e Mattheus Sávio. Este último, aliás, fez o segundo gol, após chute na trave de Cáceres. E aí, precisamente aos nove minutos do segundo tempo, o Maracanã parou. O filme passou na cabeça de todos. Léo Moura, aos prantos, viu subir a placa. Do lado de campo observou, também, Wallace e Pará. Para o primeiro passou a faixa de capitão do Flamengo.
No segundo deu um abraço, passando a lateral direita do time depois de dez anos. Soluçando, ele aplaudiu a arquibancada, a plenos pulmões com os gritos de “Fica, capitão!” e “Léo Moura eterno!”. Ele sentou no campo e observou o placar, que menos importava na noite, terminar em 2 a 0 para o Flamengo. Jogo encerrado, o agora ex-capitão deu mais uma volta olímpica no Maracanã. E deixou o coro da torcida ecoar na cabeça. Não foram dez dias. Foram dez anos. Coisa rara. Léo Moura tornou-se, mesmo, eterno.