O dólar subiu mais de 1 por cento pelo quarto dia consecutivo e encerrou acima de 3,01 reais nesta quinta-feira, ainda pressionado por incertezas sobre o ajuste fiscal e as intervenções do Banco Central no câmbio. A moeda norte-americana subiu 1,03 por cento, a 3,0115 reais na venda, após chegar a 3,0231 reais na máxima e 2,9798 reais na mínima da sessão. Trata-se do maior nível de fechamento desde 13 de agosto de 2004, quando fechou a 3,021 reais. Nos últimos quatro dias, o dólar acumulou alta de 5,44 por cento, levando a valorização no ano a 13,27 por cento. Segundo dados da BM&F, o giro financeiro ficou em torno de 2 bilhões de dólares. “O mercado já está testando o nível de 3 reais desde ontem. Bateu, bateu e agora firmou”, resumiu o superintendente de câmbio da corretora Intercam, Jaime Ferreira.
Investidores têm demonstrado preocupação com a possibilidade de o ajuste das contas públicas brasileiras não ser tão forte quanto o necessário, em meio a crescentes obstáculos políticos à implementação de cortes de gastos e aumentos de impostos. Segundo analistas, as expectativas de uma política fiscal mais contracionista eram o único fator amortecendo a pressão exercida sobre o dólar pela deterioração dos fundamentos macroeconômicos brasileiros. A inflação deve superar 7 por cento no período mesmo com a provável contração da economia brasileira. “Os problemas ainda são os mesmos. A tendência no curto, médio e longo prazos é dólar para cima”, disse o gerente de câmbio da corretora Treviso, Reginaldo Galhardo.
A perspectiva de alta dos juros nos Estados Unidos, que poderia atrair para a maior economia do mundo recursos atualmente aplicados em países como o Brasil, também vem elevando as cotações do dólar globalmente. Investidores buscarão mais sinais sobre quando isso de fato acontecerá no relatório de emprego do governo norte-americano, que será divulgado na sexta-feira.
O movimento do dólar no Brasil também veio em linha com os mercados externos, onde o mercado europeu puxava uma apreciação generalizada da divisa. A moeda europeia reagia à declaração do presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, de que o BCE pode estender seu programa de compra de títulos para além de setembro de 2016, “se necessário”, injetando mais euros no mercado global. “O dólar subiu em todo o mundo, mas, como sempre, aqui foi pior”, disse o operador de câmbio da corretora B&T Marcos Trabbold.
A pressão cambial tem levantado dúvidas sobre o futuro das intervenções do Banco Central no mercado, marcada para durar pelo menos até o fim deste mês. “Mesmo se os leilões forem acabar, é melhor isso do que ficar no escuro. Agora, há muita incerteza”, disse o operador de uma corretora internacional.
Nesta manhã, o BC vendeu a oferta total de até 2 mil swaps cambiais, que equivalem a venda futura de dólares, pelas rações diárias. Foram vendidos 1.700 contratos para 1º de dezembro de 2015 e 300 para 1º de fevereiro de 2016, com volume correspondente a 98,3 milhões de dólares. O BC também vendeu a oferta total no leilão de rolagem dos swaps que vencem em 1º de abril. Até agora, foram rolados cerca de 14 por cento do lote total, que corresponde a 9,964 bilhões de dólares.