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Mundo: Camisinhas são vendidas a R$ 2068 na Venezuela

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Além das filas para compra de itens básicos, como açúcar, carne de frango e até papel higiênico, os venezuelanos enfrentam também a escassez de outro produto importante: está difícil encontrar camisinhas e, mais ainda, pagar por elas, segundo reportagem da Bloomberg Business. “O país está tão bagunçado que agora nós temos que esperar em fila para transar”, contou um venezuelano à reportagem. O colapso dos preços do petróleo, que representa 95% das receitas em divisas do país, agravaram a falta de produtos como fraldas, desodorantes e o já citado preservativo, de acordo com o site.  As camisinhas e outros contraceptivos sumiram das farmácias desde dezembro do ano passado. Mas ainda há como comprar: no site MercadoLibre, usado pelos venezuelanos para obter produtos escassos, um pacote com 36 unidades do preservativo Trojan pode ser adquirido por 4.760 bolívares, em torno de R$ 2068,70. O valor corresponde a uma boa parte do salário-mínimo venezuelano, que é de 5.600 bolívares.

Saúde pública

A escassez de preservativos é, ainda de acordo com a Bloomberg, um efeito da falta de dólares entre importadores, e o problema vai muito além das relações sexuais. A Venezuela tem uma das taxas mais altas de infecção pelo vírus HIV e de gravidez na adolescência da América do Sul. Como o aborto é ilegal, a falta do preservativo piora o quadro de uma questão de saúde pública. A falta desses produtos “ameaça todos os programas de prevenção” em todo o país, disse Jhonatan Rodriguez, da organização sem fins lucrativos StopHIV. “Sem camisinhas, não podemos fazer nada”. Outros especialistas alertam para o possível aumento nos casos de mortes de mulheres que vão para clínicas clandestinas abortar e, também, para o impacto econômico, já que mais jovens estariam longe das escolas e do mercado de trabalho devido à gravidez. “Uma gravidez indesejada na adolescência é a marca do fracasso de um governo: fracasso na economia, na saúde pública e na política educacional”, disse à Bloomberg Carlos Cabrera, vice-presidente da filial local da organização International Planned Parenthood Federation (IPPF).

Sem confiança

Algumas farmácias ainda têm preservativos e anticoncepcionais, mas os produtos não são da confiança dos consumidores. Feitos na Ásia, nem os farmacêuticos os recomendam. “As pessoas me perguntam se eu os utilizo e se poderia recomendá-los, mas não posso”, disse Katherine Munoz, gerente de farmácia na cidade de Los Teques, perto de Caracas. Os grandes importadores de marcas conhecidas, como a Reckitt Benckiser, afirmam que as importações entraram em colapso por causa da situação política que a Venezuela atravessa. Na capital venezuelana, ainda se pode obter contraceptivos em um dos três centros de planejamento familiar da IPPF, onde preservativos eram vendidos a US$ 3 cada um, e mesmo assim sem excessos. O farmacêutico Carlos Hernandez afirma que distribuiu as duas últimas camisinhas disponíveis no Hospital Universitário de Caracas em 29 de janeiro. “Quem sabe quando vamos conseguir mais”, disse.