Petrobras merecia uma presidente mais eficiente do que eu”, disse Graça Foster, que comandou a estatal e, nesta quinta-feira, presta depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Câmara dos Deputados que investiga irregularidades na empresa. “Não estou fazendo demagogia. Não acredito na governança perfeita”, explicou.
Ela frisou que o sistema interno não detectou “ações externas”, referindo-se à corrupção na Petrobras, que também não foi encontrada por auditores nem pela ouvidoria. Graça ressaltou, contudo, que “deixou um embrião” na estatal. Na gestão dela, foi criada a diretoria de governança, risco e compliance para “assegurar que as pautas não representam cartel” e que um projeto básico de obras que seja bom o suficiente. “Eu acredito na melhoria da gestão”, completou.
Graça repetiu que participou apenas do fim do processo de aquisição da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos. Segundo ela, dizer que um negócio foi ruim anos depois de a compra ser realizada é fácil. “O Conselho de Administração da Petrobras não teve todos os elementos para aprovar ou reprovar a refinaria. Faltaram elementos”, confirmou a ex-presidente da estatal.
Dilma
Questionada por parlamentares se ainda tem um sentimento de gratidão e fidelidade incondicional à presidente Dilma Rousseff, a ex-presidente da Petrobras Graça Foster respondeu que “certamente existe”. Sobre os encontros entre as duas, Graça disse que informava só aumento da produção, aumento das descobertas, aumento da reserva. “Propina eu não conhecia. Corrupção eu não conhecia e eu não poderia conversar com ela sobre o que eu não conhecia”, disse.
A ex-presidente da estatal também negou que Dilma tenha orientado a não divulgar uma baixa contábil de R$ 88,6 bilhões no balanço da estatal referente às perdas com corrupção ligadas à operação Lava-Jato. “A presidente [Dilma] não disse para eu não mostrar e eu achei mais apropriado mostrar para o mercado”, disse.
Corrupção
A executiva afirmou ainda não poder dizer que a corrupção na estatal era “sistêmica nem generalizada”. “Tenho ouvido que [irregularidades] eram intensas até o ano de 2012. Depois disso é que esse suposto cartel se desfez. Não tenho nenhum indicador que tenha ocorrido isso na minha gestão na Petrobras [como presidente]. Era diretora [na época]. Mas não percebi tais praticas”, afirmou aos deputados da Comissão criada para investigar suposto esquema de corrupção na estatal. Para ela, diante das denúncias de irregularidades, “quem perdeu duplamente – tanto do ponto de vista moral como do ponto de vista econômico – foi a Petrobras”.
Fraude
Mais cedo, também na CPI, Graça afirmou que nunca soube, antes do resultado oficial, qual empresa venceria uma licitação. “O esquema de corrupção, no meu entendimento, com os dados que tenho hoje, se formou fora da Petrobras”, disse.
Também à CPI, o ex-presidente da estatal José Sérgio Gabrielli defendeu que os crimes investigados pela operação Lava-Jato são “um caso de polícia”, pois ex-dirigentes da empresa se organizavam fora da Petrobras com empreiteiras para obter benefícios no esquema de corrupção criado, lembrou o relator da Comissão, deputado Luís Sérgio (PT-RJ). Graça, então, apoiou a posição de Gabrielli.
“Eu jamais soube de um resultado […] até a hora em que os envelopes [das licitações] foram abertos”, alegou a ex-presidente da estatal. Ela observou ainda que a corrupção na estatal não foi descoberta pela empresa, nem por auditores, mas sim pela Polícia Federal (PF) e pelo Ministério Público Federal (MPF).