A força militar da Venezuela está reduzida, duramente atingida pela crise que destroçou a economia do país com uma inflação de 1.700.000% ao ano. A tropa de 115 mil homens e mulheres registrada em 2015 perdeu cerca de 23% do melhor pessoal, técnicos e profissionais de nível universitário, saídos rumo à iniciativa privada internacional ou, pior, por desencanto – o número de deserções é tão alto que deixou de ser informado pelo governo bolivariano. A oficialidade anda aborrecida com a manipulação da carreira. Há perto de 2 mil generais – 1 para cada 57 soldados -, grande parte deles premiados com promoções políticas. Segundo agências de inteligência da Defesa dos EUA, o inventário do arsenal não vai bem. Tanques T-72 e blindados sobre rodas, fornecidos pela Rússia há pouco tempo, precisam de manutenção pesada. Os dois submarinos leves classe Sabalo, de 1.300 toneladas, estão em péssimo estado, recolhidos em diques secos. Das seis fragatas Lupo da esquadra, apenas duas manteriam o poder de ataque. Na estratégica aviação de combate a situação é grave.
Os caças de múltiplo emprego Su-30 Mk2V, comprados da Rússia em 2006 pelo então presidente Hugo Chávez, enfrentam sérias dificuldades para sair do chão – de acordo com a análise de informações americanas, a frota operacional está limitada a 10 ou 12 supersônicos – só dois deles dotados de recursos eletrônicos para disparar mísseis antinavio de alta velocidade Kh-31 com alcance na faixa de 150 quilômetros. O comando da aeronáutica venezuelana recebeu 24 jatos Su-30. Perdeu um, em acidente. Utiliza parte da frota de 23 unidades como banco de peças e componentes para preservar os três esquadrões remanescentes. Ontem, dois Sukhoi teriam voado, armados e a baixa altura, trovejando as turbinas sobre a região de Cúcuta, fronteira com a Colômbia. Os jatos são espetaculares – podem levar de 8 a 12 toneladas de mísseis, foguetes, bombas inteligentes e tanques extras, além de um canhão de 30 mm. A força aérea emprega jatos subsônicos chineses K-8 Karakorum nas missões de bombardeio leve. As aeronaves, 18 delas, podem receber até 1 tonelada de armas de baixa sofisticação ou acessórios óticos de reconhecimento.
Os caças russos e um único grupo formado por antigos F-16 A/B americanos, na média com 30 anos de uso, foram deslocados de suas bases regulares para El Libertador, em Maracay, no eixo centro-norte da Venezuela. É um enorme complexo, que abriga um aeroporto civil, mais unidades de transporte e vigilância. Há dois dias, uma bateria de mísseis russos S-300 de defesa antiaérea foi fotografada no local por um satélite militar dos EUA. A Venezuela tem três batalhões completos. É a mesma arma cuja presença na Síria e no Irã desagrada à Casa Branca sob Donald Trump. Simples e letal. Uma bateria é formada por 6 carretas lançadoras blindadas, cada uma levando quatro mísseis, 1 radar de longa distância, 1 veículo de comando e controle, e 1 remuniciador. A versão adquirida pelo presidente Maduro, recebida a partir de 2012, custa cerca de US$ 115 milhões, fora o míssil 9M82M, cotado a US$ 1 milhão.
Funcionando no modo automático – o sistema digital rastreia os alvos, prioriza o grau de ameaça e faz o disparo – o tempo de reação é de 3 segundos. Atinge mísseis balísticos e de cruzeiro, aviões e projéteis de artilharia no limite máximo de 150 km a 200 km, a altitudes de 30 km. De acordo com os dados da inteligência, o S-300 tem recebido dinheiro, atenção e cuidados. No lado brasileiro da fronteira, em Roraima, o cenário tático seguiu as definições do ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva. Na sexta-feira, Azevedo e Silva havia dito ao Estado que “não há possibilidade de confronto militar” entre Brasil e Venezuela. A 1.ª Brigada de Infantaria de Selva, de Boa Vista, manteve as ações previstas de apoio logístico. (Estadão Conteúdo)