O ex-presidente do Uruguai José Mujica disse neste domingo que não irá ao Brasil caso seja convidado a depor no Senado sobre as informações que ouviu do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva envolvendo o escândalo do “Mensalão”. “Não vou viajar para qualquer lugar…”, disse Mujica à imprensa após votar nas eleições municipais, nas quais sua mulher, Lucía Topolansky, concorre à Intendência de Montevidéu. Durante a semana, a biografia autorizada de Mujica “Uma ovelha negra no poder” gerou polêmica no Brasil ao revelar reflexões de Lula sobre o “Mensalão”.
De acordo com o livro, escrito pelos jornalistas uruguaios Andrés Danza e Ernesto Tulbovitza, Lula teria contado a Mujica no início de 2010, em uma reunião em Brasília, que tinha que “lidar com muitas coisas imorais, chantagens” e que “esta era a única maneira de governar o Brasil”. Na sexta-feira, Mujica negou a conversa com Lula sobre o escândalo do “mensalão”.
“Aparece o amigo Lula ali conversando comigo sobre o ‘mensalão’, mas nunca falei com um brasileiro sobre o ‘mensalão’, por questões minhas. (José) Dirceu para mim não é um criminoso, está condenado mas é um formidável lutador”, disse Mujica sobre o ex-chefe da Casa Civil, condenado pelo Supremo Tribunal Federal por corrupção.
O líder do Democratas no Senado, Ronaldo Caiado, informou que vai ingressar com um requerimento de convite a Mujica para “colher mais informações sobre a confissão de Lula no seu envolvimento no Mensalão”.
Segundo Caiado, que apresentará o requerimento à Comissão de Relações Exteriores do Senado, “a acusação é muito séria, até porque é a própria esquerda brasileira que trata Mujica como uma espécie de mártir e coloca sua índole acima de qualquer suspeita”. “Se ele diz que o ex-presidente Lula, não só confirmou ter conhecimento sobre o Mensalão, como admitiu que era a sua única forma de governar o país, isso coloca em xeque toda a tese que o inocentou do esquema”.