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Esportes: Antes de mais um retorno, Popó sonha alto: “Quero lutar com os melhores”

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Acelino “Popó” Freitas, um dos maiores boxeadores brasileiros da história, decidiu encerrar sua carreira em 2007, após a derrota para o norte-americano Juan Diaz, alegando que era melhor parar por cima, enquanto ainda estava no auge. No entanto, a paixão pela modalidade o fez voltar aos ringues em 2012 para enfrentar o paulista Michael Oliveira no Uruguai, em luta vencida pelo baiano por nocaute técnico no nono round. Em dezembro de 2014, Popó mostrou que ainda não estava pronto para se despedir do esporte e anunciou um novo retorno, previsto para maio deste ano. “É um desejo pessoal. Eu não parei por lesão, não parei por dinheiro. Não foi o boxe que me parou, na verdade fui eu que parei com o boxe, então eu posso voltar a hora que quiser. Estou definindo o patrocínio para poder voltar tranquilo, fazer uma boa luta e um bom trabalho”, afirmou o pugilista em entrevista à Gazeta Esportiva.Net.

Popó contou que os detalhes do retorno ainda não estão totalmente definidos, mas a disputa será válida pela categoria meio-médio (69kg) da Associação Mundial de Boxe (WBF), na inauguração do ginásio Mangueirinho, em Belém (PA). Quando anunciou sua volta, o lutador de 1,65m e 39 anos pesava cerca de 80kg, e desde então uniu preparação física à dieta apropriada para chegar ao peso certo para o retorno – o auge de sua carreira foi na categoria superpena (59kg). Seus treinamentos terão início na Bahia e serão finalizados em São Paulo.

Embora o nome do adversário ainda não tenha sido divulgado, ele já deixou claro que não quer enfrentar um compatriota por acreditar que não haja nenhum à sua altura em qualidade ou experiência: tetracampeão mundial em duas categorias, o baiano acumula 41 lutas em seu cartel, sendo 39 triunfos, 33 deles por nocaute, e apenas duas derrotas, para Diaz e para seu compatriota já falecido, Diego Corrales, em 2004. “A minha ideia é lutar com os melhores”, garantiu.

O atual cenário do esporte agrada bastante ao pugilista. “É muito bom. Hoje, o atleta mais bem pago do mundo é um lutador de boxe”, disse, se referindo ao norte-americano Floyd “Money” Maywheather, eleito pela Forbes o esportista que mais faturou em 2014, à frente de Cristiano Ronaldo e LeBron James.

Invicto com 47 vitórias em 47 lutas na carreira, Money é considerado o antecessor de Manny “Pac-Man” Pacquiao – com 64 lutas, sendo 57 vitórias, dois empates e cinco derrotas – na lista de maiores lutadores da atualidade, e desde que o norte-americano interrompeu sua aposentadoria, em 2009, os fãs do boxe aguardam um embate entre os dois. Na época, os atletas chegaram a marcar a luta para março de 2010, mas a recusa do filipino em se submeter à exigência do norte-americano e realizar procedimentos olímpicos dos exames antidoping – quando os testes são realizados 30 dias antes da luta -, fizeram o confronto ser cancelado. Na última semana, o promotor da Top Rank, Bob Arum, anunciou que Pacquiao aceitou os termos de Floyd e eles devem lutar no dia 2 de maio, no Grand Garden, em Las Vegas, nos Estados Unidos. Popó já declarou abertamente que gostaria de ter duelado com os dois, mas seus desafios nunca foram aceitos.

“Eles vão se enfrentar, mas foram lutadores que na época da minha carreira não quiseram lutar comigo. Provavelmente os empresários tinham medo de perder o título, o lutador, o reinado, a invencibilidade, não sei”, provocou o brasileiro.

Para ele, o Brasil está bem representado pelos irmãos Esquiva e Yamaguchi Falcão, de 25 e 26 anos, respectivamente, filhos do ex-lutador Touro Moreno. Ambos conquistaram medalhas olímpicas em Londres, em 2012. O primeiro levou a prata na categoria até 75 kg ao perder para o japonês Ry?ta Murata, enquanto o segundo faturou o bronze nos 81 kg. Os dois quebraram um jejum de 44 anos no boxe nacional, já que o último medalhista havia sido o paulista Servílio de Oliveira no peso mosca (51kg), nos Jogos Olímpicos do México, em 1968.

“Eles são bons, corajosos, valentes, estão fazendo lutas boas. Além de estarem invictos. Têm um futuro muito promissor”, elogiou. Apesar de serem responsáveis pelo ressurgimento do boxe olímpico brasileiro, os dois não disputarão as Olimpíadas do Rio de Janeiro, em 2016, pois optaram por buscar o sonho de lutar profissionalmente e conquistar o título mundial. Esquiva fechou contrato com a Top Rank, de Pacquiao, enquanto Yamaguchi acertou com a Golden Boy. Popó entende a escolha.

“É uma decisão difícil em todas as modalidades, mas acho que o título máximo vale a pena”, disse. Porém, o baiano não é tão otimista em relação a Michael Oliveira, que derrotou em 2012. “Como pessoa, é um ótimo menino, muito família, mas como lutador a estrada que ele tem pela frente ainda é muito longa, até porque pra ser lutador bom nos Estados Unidos tem que ter uma pegada fora do normal. Ele tem uma qualidade técnica boa, mas tem que ter algo mais, e esse algo a mais ele não tem”, avaliou.

Em Londres, além dos irmãos Falcão, o boxe também garantiu uma medalha com Adriana Araújo, bronze na categoria leve (60kg). A atleta de 32 anos foi afastada da Seleção em abril de 2013 por não ter cumprido os critérios técnicos e se apresentado acima do peso. Na época, a pugilista afirmou que o esporte precisava ser mais valorizado e que chegou a ser desrespeitada pelo presidente da Confederação Brasileira de Boxe (CBBoxe), mas um ano depois acertou seu retorno e luta por uma vaga nos Jogos do Rio.

“O boxe feminino não é tão assistido quanto deveria, já que tem muitas meninas boas, sendo que nossa primeira medalha olímpica veio com Adriana. Tem a Clélia [Costa, bronze no Mundial de boxe de 2013], a Graziele [Jesus], são meninas boas. Elas são talentosas, muito promissoras, mas não passam para o profissional e preferem ficar no amador. O profissional é muito complicado pro boxe ainda”, comentou o boxeador.

Depois de abandonar os ringues, Popó se lançou candidato a deputado federal pela Bahia em 2010, pelo Partido Republicano Brasileiro (PRB), mas não foi eleito. Depois que o deputado Mário Negroponto, do Partido Progressista (PP), foi nomeado para o Ministério das Cidades, o baiano herdou a vaga. Ele tentou a reeleição em 2014, mas somou apenas 23.017 votos (0,35%) e não obteve êxito. No fim do ano passado, a presidente Dilma Rousseff nomeou o pastor George Hilton, também do PRB, para o Ministério dos Esportes. O boxeador se mostrou otimista para a realização das Olimpíadas e disposto a ajudar no que for preciso.

“As expectativas são boas, conquistamos três medalhas da última vez, e por ser no Brasil, acho que fortalece ainda mais o esporte. A CBBoxe está de parabéns pelo trabalho que já vem de muitos anos. Vai ser ótimo ter o evento aqui, e até pelo Ministro ser do meu partido, no que eu puder apoiar, apoiarei”, encerrou o tetracampeão.